depoimento #34

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Acertou a cara dela. Não, não foi um soquinho de nada. Foi soco de homem, punho fechado e firme no meio da cara. O nariz sangrou na hora, mas ela não gritou. Eu vi, sim. Ali no meio da rua escorrendo uma mancha vermelha na pele branca. Ela levantou, disse algo incompreensível e respondeu com um soco também. Eu não estava muito perto, não ouvi o que ela disse. Eles moraram aqui na vizinhança uns meses, sim. O homem revidou com um tapa de mão aberta. Fez um “plaft” nas bochechas, ela caiu e cuspiu poça de sangue. Os cabelos pretos ficaram impregnados de visgo. E ela continuou dizendo coisas incompreensíveis no chão. Essa mulher era forte mesmo. Não parecia, mas era. Nunca vi uma mulher bonita desse jeito tão forte. Ameaçou levantar e ele deu um chute no estômago. Aí ela aquietou. Soltou um grito abafado e depois ficou caída, arfando meio-desmaiada com a boca cheia de sangue.

Não foi a primeira vez que esses dois aprontaram confusão. Mas ninguém se metia. Ninguém sabia exatamente o motivo. Aqui ninguém gosta muito de encrenca. Depois, eles voltavam como se nada tivesse acontecido.

Ela ficou jogada ali no chão até uma vizinha aparecer e apóia-la com os braços. Levantou e agradeceu com um sorriso inchado e foi embora. Sumiu.

O homem continuou por ali. Totalmente diferente. Pálido, sujo e triste. Um dia, os vizinhos chamaram uma ambulância e ele foi não sei para onde. Não voltou. Aqui ninguém sabe mais do que isso que estou lhe contando. E eles nunca pareceram mesmo se importar com a nossa opinião.

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Comentários

  • verena  On dezembro 13, 2007 at 6:41 pm

    (re)descobri agora e gostei. 😉

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